domingo, 17 de outubro de 2010

ENTRE O SABER E O PODER

Em pleno surgir da manhã, sob a suavidade de um raio de sol a se mostrar pelo vitrô entreaberto, meus olhos estendem-se pelo horizonte. Minha mente expande-se... Vejo tudo: montanhas, colinas, pequenos riachos, árvores frondosas, arbustos e pássaros. Pequenos pássaros saltitantes, outros voando sob a luz suave do amanhecer a iluminar suas penas viçosas. Gaivotas, colibris, sabiás, papagaios e avestruzes e uma infinidade de outros deles espreguiçavam-se. Tudo numa só mistura. Por mais estranho que me parecia, espécies diferentes num lugar comum. Liberdade de sentir. Liberdade de expressão. Manifestações de carinho e de sentimentos. Uma sensação de paz harmônica tomou conta de mim. Ergui o corpo, me fiz movimento, desfiz o vitrô, alcei vôo. Fui sem pensar, sem medo, com uma sensação única... Aquela sensação sonhada por todo ser humano. Liberdade. Asas em movimentos, numa cadência ímpar, por momentos, ao som e ao ritmo de Beethoven, depois, aos embalos da chuva que começou a cair. Mas, foi tão rápido. Rápido mesmo. Somente o tempo necessário para o sol se trocar. Despiu-se da suavidade matinal, vestindo-se com os seus raios dourados, e, imponente, matou sua sede com as últimas gotas de chuva que pousavam sobre as verdes folhagens sonhadoras. Tudo era vida, os pássaros, as árvores, riachos, sol, chuva, vento, brisa e eu também. Até que, de repente, um vento forte, imprevisível, me pegou de chofre, quebrou minhas asas. Descuidei-me. Não tive escolha. Já não voava... Corria... Corria... Voltei ao meu ponto de partida. Cheguei arfante. Entrei, repus o vitrô. Acordei. Voltei à realidade. A batalha entre poderes continua. Descobri que o homem ainda não sabia usar as suas asas.

Elvarlinda Jardim, Momentos de Reflexão

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